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Programa Transcendente de Conquistas Imateriais
Rogério Coelho

   "Não ajunteis tesouros na Terra, onde a traça e a ferrugem consomem, e
onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no Céu, onde nem
a traça, nem a ferrugem consomem, e os ladrões não minam nem roubam".
Jesus (MT 6:19-20).
 
   Existe o homem fisiológico e o homem espiritual. Este, não obstante estar ainda arrastando os pés no chão do mundo, logra vislumbrar os Painéis do Infinito, com os olhos postos nas Estrelas. Aquele, de horizontes limitados e mente obnubilada por soez ignorância, mantém-se voltado para os interesses subalternos, vislumbrando tão-somente na horizontal chã.
   Allan Kardec desenha os perfis desses caracteres antípodas no comentário que faz após a resposta dos Espíritos à questão 941 de O Livro dos Espíritos (Ed. FEB):
   "O homem carnal, mais preso à vida corpórea do que à vida espiritual, tem, na Terra, penas e gozos materiais. Sua felicidade consiste na satisfação fugaz de todos os seus desejos. Sua alma, constantemente preocupada e angustiada pelas vicissitudes da vida, se conserva numa ansiedade e numa tortura perpétuas. A morte o assusta, porque ele duvida do futuro e porque tem de deixar no mundo todas as suas afeições e esperanças.
   O homem moral, que se colocou acima das necessidades factícias criadas pelas paixões, já neste mundo experimenta gozos que o homem material desconhece. A moderação de seus desejos lhe dá ao Espírito calma e serenidade. Ditoso pelo bem que faz, não há para ele decepções e as contrariedades lhe deslizam por sobre a alma, sem nenhuma impressão dolorosa deixarem".
   Em O Evangelho segundo o Espiritismo (Ed. FEB), Kardec nos oferece, ao raciocínio, algumas ilações sobre o ponto de vista pelo qual o homem carnal e o homem espiritual encaram a Vida. Não fica difícil concluir a supremacia deste sobre aquele, quando entra em cena a variável Vida Futura:
   "A ideia clara e precisa que se faça da vida futura proporciona inabalável fé no porvir, fé que acarreta enormes consequências sobre a moralização dos homens, porque muda completamente o ponto de vista sob o qual encaram eles a vida terrena. Para quem se coloca, pelo pensamento, na vida espiritual, que é indefinida, a vida corpórea se torna simples passagem, breve estada num país ingrato. As vicissitudes e tribulações dessa vida não passam de incidentes que ele suporta com paciência, por sabê-las de curta duração, devendo seguir-se-lhes um estado mais ditoso. À morte nada mais restará de aterrador; deixa de ser a porta que se abre para o nada e torna-se a que dá para a libertação, pela qual entra o exilado numa mansão de bem-aventurança e de paz. Sabendo temporária e não definitiva a sua estada no lugar onde se encontra, menos atenção presta às preocupações da vida, resultando-lhe daí uma calma de espírito que tira àquela muito do seu amargor. (…)
   É o que sucede ao que encara a vida terrestre do ponto de vista da vida futura (…) lamenta que essas criaturas efêmeras a tantas canseiras se entreguem para conquistar um lugar que tão pouco as elevará e que por tão pouco tempo conservarão. Daí se segue que a importância dada aos bens terrenos está sempre em razão inversa da fé na vida futura". (ESE, cap. II, item 5.) Conscientes de tais realidades insofismáveis, a alternativa que nos resta mais consentânea com o bom senso é elaborarmos, desde já, um programa transcendente de conquistas imateriais, que permanecerão inalienáveis pela Eternidade.Tal projeto deverá ser vazado no "espírito" da oportuna e grandiloquente conclamação do Amigo Divino: "(…) ajuntai tesouros no Céu (…)".
   Em um trecho da carta íntima que Meimei (já desencarnada) envia para seu amado Arnaldo Rocha em 6/9/1952, pelo correio psicográfico seguro de Chico Xavier, existe uma síntese que enquadra, com clareza, o "espírito" dessas nossas ilações, mostrando-nos o que realmente conta para a Eternidade (Tesouros do Céu):"(...)
   Posso dizer a você que a maior felicidade que amealhamos no mundo é a das bênçãos que espalhamos com os outros. Reconforto corpóreo, bens efêmeros, autoridade, recursos ilusórios, tudo, é alguma coisa que um dia se confundirá com as cinzas, mas o Amor Divino, em forma de serviço aos nossos semelhantes, é claridade que não se extingue jamais". (Destaques nossos.)
 
REVISTA DE ESPIRITISMO CRISTÃO.
ANO 122 - MARÇO 2004 - Nº 2100.
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