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Mateus 28:17-30 Marcos 14:12-26 Lucas 22:7-30 João 13:1-35
Quando entra o Antagonista
Richard Simonetti
Dentre as festividades da Páscoa, havia a ceia, cujo prato principal era um cordeiro, sacrificado em homenagem à fuga do Egito.
A tradição primeiro, depois a teologia, situariam Jesus como o Cordeiro de Deus, sacrificado para salvação dos homens.
A expressão salvação não se ajusta aos princípios espíritas. Ninguém está perdido, pois todos somos filhos de Deus e permanecemos sob seu olhar complacente.
Mesmo aqueles que se comprometeram na rebeldia e no desatino, no vício e no crime, não estão isolados na Criação. Por mais longe nos levem nossos desatinos, ainda assim permaneceremos nos domínios de Deus, regidos por leis soberanas que reajustam nossas emoções e renovam nossas ideias.
Jesus veio acelerar nossa jornada evolutiva. Alguém que nos mostrou que a reta do Bem é o caminho mais curto entre a animalidade que nos domina e a angelitude que devemos atingir.
É como se nos dissesse: "Acompanhem meus passos, observem minhas lições. Seguirão mais rápido…"
Portanto, não o imaginemos um cordeiro a lavar nossos pecados com seu sangue.
Segundo o comentário de Allan Kardec, na questão 625, de O Livro dos Espíritos, Jesus foi abençoado modelo, o Espírito mais puro que já transitou pela Terra, a nos ensinar como cumprir as Leis Divinas, habilitando-nos a viver tranquilos e felizes.
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O Mestre aproveitaria essa comemoração para transmitir as derradeiras instruções ao colégio apostólico.
Pediu aos discípulos procurassem um homem que lhes cederia sua residência, em Jerusalém. Não se sabe quem foi. Certamente algum simpatizante.
À tarde, compareceram todos, ao que parece sem a presença dos donos da casa, preservando a intimidade do grupo.
Há um quadro famoso, de Leonardo da Vinci, mostrando Jesus ao centro de uma mesa retangular, rodeado pelos discípulos. Segundo os exegetas, o mais provável é que a mesa tivesse uma forma de U, com Jesus ao centro. A ladeá-lo, Simão Pedro e João.
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Os apóstolos viviam momentos de ansiosa expectativa.
Sabiam que algo importante estava para acontecer, mas não tinham a mínima ideia das tormentas que viriam, embora o Mestre deixasse bem claro que enfrentaria duros testemunhos, a culminarem com sua morte.
Após uma convivência de três anos, ainda não haviam assimilado a ideia do Reino de Deus como uma realização interior.
Imaginavam tratar-se de conquista puramente material. No momento oportuno, Jesus convenceria os incrédulos, submeteria os poderosos à sua vontade soberana e instalaria a nova ordem.
Passaram, desde logo, a tratar de um assunto que lhes parecia prioritário:
Qual deles seria o mais importante, o principal preposto?
Podemos imaginar a melancolia do Mestre, observando os companheiros. Não haviam entendido absolutamente nada.
Em dado instante, ergueu-se, tomou de um vaso d’água e passou a lavar os pés dos discípulos.
A reação foi imediata. Absurdo aquele comportamento, próprio de escravos a serviço de seus senhores.
Simão Pedro perguntou:
- Senhor, por que me lavas os pés?
- O que faço, tu não sabes agora, mas saberás depois disso.
- Não, Senhor, não me lavarás os pés!
- Se não te lavar, não terás parte comigo!
- Então, Senhor, não só os pés, mas também as mãos e a cabeça.
Era bem o velho Simão, efusivo e exagerado.
Jesus lavou os pés de todos.
Depois, erguendo-se, falou:
- Vós me chamais de Mestre e Senhor e dizeis bem, pois eu o sou. E se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, assim deveis fazer uns aos outros…
O ensinamento é magistral, reafirmando a mensagem mais importante:
Para Deus o maior será sempre aquele que mais disposto estiver a servir, o que mais se dedique ao Bem.
Quando chegar a nossa hora, quando retornarmos à espiritualidade, ninguém nos perguntará por nossos títulos, patrimônios, cultura, conhecimento… Se fomos o presidente da república, um capitão de indústria, um artista famoso, um desportista vencedor ou mero trabalhador braçal.
As perguntas fundamentais serão:
Quanta dor aliviou?
Quanto consolo ofereceu?
Quanta fome mitigou?
Quanto amor disseminou?
Quanta compreensão exercitou?
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Em seguida, revelou:
- Em verdade, em verdade vos digo: um de vós que come comigo há de me entregar. A mão do que me trai está comigo à mesa.
Tinha plena consciência dos planos de Judas. Lia a alma das pessoas como num livro aberto.
Os discípulos ficaram indignados.
Perguntavam, ingenuamente:
- Acaso sou eu, Senhor? Jesus reiterou:
- Um dos doze, que põe a mão no mesmo prato comigo, esse me entregará. O Filho do Homem vai, conforme foi determinado e está escrito a seu respeito, mas ai do homem por quem o Filho do Homem for entregue! Seria melhor para esse homem se não houvesse nascido!
Ao dizer que seria melhor não ter nascido, Jesus evidencia que a traição de Judas não constava do projeto messiânico.
Aconteceu, não por decisão divina, mas por desatino humano, na iniciativa de um discípulo iludido com as realizações materiais.
O mal nunca é programado.
Situa-se por fruto de nossas ações, quando contrárias à vontade de Deus.
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Dirigindo-se a João, sentado ao seu lado, Jesus informou que o traidor seria aquele a quem entregasse o pão molhado no vinho.
E o ofereceu a Judas, dizendo:
- O que tens que fazer, faze-o depressa!
Judas tomou o pedaço de pão e saiu imediatamente.
Diz o texto evangélico que depois do pão, entrou em Judas o antagonista, simbolizando as influências nefastas que o norteavam.
Ninguém, com exceção, talvez, de João, compreendeu o que acontecera. Como era Judas quem guardava a bolsa do grupo, pensaram que saíra para comprar o necessário à festa e algo dar aos pobres.
Indagará o leitor: Se a traição de Judas não estava no script, por que Jesus não procurou demovê-lo?
A resposta é simples: Não adiantaria!
Judas firmara um propósito – promover uma reação popular com a prisão de Jesus, iniciando uma revolução.
Nada do que o Mestre lhe dissesse haveria de modificar sua intenção, mesmo porque, a essa altura, sentia-se ele próprio um instrumento divino.
Se Judas não aprendera as lições de prudência e mansuetude, exemplificadas por Jesus, em três anos de convivência, não haveria de se sensibilizar com reiteradas advertências.
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Há quem questione a ação dos mentores espirituais quando as pessoas envolvem-se com o mal.
Por que não interferem?
Equivocada dúvida!
Eles nunca deixam de nos advertir e orientar pelos condutos da intuição, além de mobilizarem variados recursos educativos, envolvendo a religião, o lar, a escola…
Quando a pessoa permite que, a par dessas benesses, entre em seu coração o antagonista, representando o envolvimento com as tentações e enganos do mundo, acaba frustrando o empenho do mundo espiritual.
Resta deixar que a pessoa exercite o livre-arbítrio e quebre a cara, como se costuma dizer, aprendendo, pela didática severa da dor, que é preciso respeitar as leis divinas.
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